Uma das características mais marcantes do mercado imobiliário é a forte concorrência. Especialmente na região Sudeste do país, grandes construtoras brigam por espaço para lançar novos empreendimentos, especialmente fora do âmbito do programa Minha Casa, Minha Vida.
No Nordeste, esse cenário é bastante diferente. Quando se trata de imóveis de médio e alto padrões, a construtora Moura Dubeux (MDNE3) tem uma liderança que nenhuma companhia do setor consegue ter em qualquer outra região do Brasil, afirma o CEO Diego Villar, em entrevista exclusiva ao Money Times.
“Nós somos a única construtora voltada para média e alta renda que atua em sete estados da Região. E não temos nenhum concorrente de fora. Tivemos um resultado recorde no segundo trimestre, e vamos bater essa marca no terceiro trimestre”, afirma Villar.
Entre abril e junho deste ano, a Moura Dubeux lançou 36% menos unidades que no mesmo período de 2023, saindo de 1.364 para 871. Mas em vendas contratadas, a direção foi oposta, com crescimento de 37,6%, para R$ 544 milhões.
O CEO da companhia conta que com a liderança conquistada, a construtora pode “escolher seu tamanho, e também escolher pelo lançamento de produtos com maior rentabilidade”.
Mesmo com os distratos crescendo 22% em um ano, fechando em R$ 51,5 milhões no trimestre, as vendas líquidas aumentaram mais de 40%, superando os R$ 490 milhões.
O resultado dessa dinâmica apareceu na receita líquida da Moura Dubeux, que cresceu mais de 25% no segundo trimestre de 2024 (2T24), para R$ 392 milhões.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado avançou quase 47%, ficando muito próximo dos R$ 90 milhões.
Com a margem líquida passando de 14,4% para 19,1%, a companhia conseguiu um lucro líquido de quase R$ 75 milhões no segundo trimestre, com crescimento acima de 65%.
O que pensam os analistas?
O otimismo em relação à Moura Dubeux não é exclusividade de seu CEO. Em relatório divulgado recentemente aos seus clientes, o Itaú BBA coloca a ação da companhia como uma das preferidas do setor, especialmente entre aquelas que têm menor volume de negócios na Bolsa.
A equipe de analistas do Itaú BBA, liderada por Daniel Gasparete, espera que a construtora feche 2024 com lucro de R$ 240 milhões, e atinja R$ 280 milhões em 2025.
“A companhia se compromete a pagar pelo menos R$ 100 milhões em dividendos por ano, uma abordagem atraente para o investidor. Projetamos um retorno com dividendos de 10% em 2025”, diz o Itaú BBA.
O banco cita ainda que a construtora está com uma carteira grande de empreendimentos a serem lançados que devem dar bons retornos, devido à necessidade relativamente baixa de capital para impulsionar as vendas.
A recomendação dada pelo Itaú BBA para MDNE3 é Outperform, que corresponde à compra, com preço-alvo de R$ 20. Nesta segunda-feira (02), a ação fechou a R$ 14,65. Portanto, a estimativa do banco representa um potencial de valorização de 36,5%.
Um destes projetos, em Salvador, capital da Bahia, foi anunciado no ano passado e está com cerca de 70% das unidades vendidas, segundo Villar.
O empreendimento começou com a aquisição de dois hotéis históricos na capital baiana: o Pestana e o Bahia Othon Palace. A Moura Dubeux está reformando os dois prédios, e vai vender unidades residenciais e para estadias de curto prazo.
O Valor Geral de Vendas (VGV) do projeto é de R$ 1,1 bilhão. Valor parecido com o de outro empreendimento residencial, desta vez em Fortaleza, no Ceará, na Avenida Beira Mar, que tem lançamento previsto para meados de 2025.
Villar lembra que entre 2006 e 2014, grandes construtoras fizeram diversos lançamentos no Nordeste. Mas durante o governo Dilma, com a alta dos juros, todas entraram em crise e saíram da região.
“Eu sei que nenhuma delas está voltando porque nós acompanhamos as negociações de terrenos. Nenhuma grande construtora do Sudeste, por exemplo, está comprando por aqui”, relata o executivo.
Ele afirma que o mercado nordestino tem uma demanda forte a ser atendida, especialmente no segmento em que a empresa atua.
“Não há déficit habitacional entre as pessoas de média e alta renda. Por isso nós apostamos na qualidade dos empreendimentos. É isso que vai fazer a diferença”, conta Villar.
Outra vantagem da Moura Dubeux é que neste segmento de atuação, os juros altos não fazem tanta diferença, na comparação com empreendimentos voltados para rendas mais baixas.
“A economia real está indo muito bem. No Nordeste, a maré pode até baixar, mas não zera. Mas ao mesmo tempo, não podemos subir os preços de forma inconsequente, porque a demanda não é elástica a esse ponto”, conclui o executivo.